Ciências Econômicas
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Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 143/março de 2022

Updated at 03/31/22 21:47 .

A redução do valor do dólar tem engendrado alguns debates acerca de suas causas e consequências.

A redução do valor do dólar ocorrida nos últimos dias no Brasil tem engendrado alguns debates acerca de suas causas e consequências sobre a economia brasileira. Talvez um dos principais deles seja a possibilidade desse movimento ter impactos positivos sobre a inflação do país. No ano passado, a moeda americana atingiu a sua cotação máxima (R$ 5,8397) no dia 09/03 e a mínima (R$ 4,9206) no dia 25/06. Nesse ano, após superar o patamar de R$ 5,70 no início do mês de janeiro, a taxa de câmbio entrou numa trajetória de queda, encontrando-se atualmente quase R$ 1,00 abaixo daquela cotação máxima ocorrida no mesmo mês de 2021.

Fatores internos e externos parecem explicar esse movimento. Do ponto de vista interno, há poucas dúvidas de que a explicação central para tanto repousa sobre o patamar da taxa básica de juros, Selic. Essa taxa estava em 2,0% ao ano (a.a.) até 14 de março/21, mas na reunião ocorrida no dia 28 do mesmo mês, aumentou para 2,75% a.a. e, a partir daí, não parou mais de subir. Atualmente, encontra-se em 11,75%, mas o mercado ainda espera por novas elevações.

Esse aumento da taxa Selic tem relação direta com alguns fatores ocorridos no âmbito externo, dada a diferença entre os juros de lá e os de cá. No Japão, por exemplo, o banco central (BoJ) opera nesse ano com a taxa de depósito negativa (-0,1% a.a.) e com a meta de juros do título público (JBG) de 10 anos em cerca de 0,0% a.a.. Na zona do Euro, o BCE manteve a taxa de juros de curto prazo em 0,0% a.a. na reunião ocorrida em fevereiro/22, a despeito das pressões inflacionárias vigentes nesse momento na região. Já o Banco Central do EUA, Federal Reserve, promoveu, no dia 16 de março/22, a primeira elevação da taxa básica de juros do país desde 2018. O aumento foi de 0,25 pontos percentuais (p.p.), mas o patamar passou do intervalo de 0,0% a.a. e 0,25% a.a. para o de 0,25% a.a. e 0,5% a.a, ficando muito aquém da taxa Selic.

Considerando que não houve alteração relevante do nível de risco da economia brasileira nesse período, essa diferença significativa entre os juros de curto prazo tem atraído um alto volume de dólares para o Brasil, derrubando a taxa de câmbio do país. Esse processo torna-se ainda mais intenso em decorrência do crescimento das operações de carry trade, que ocorrem quando um investidor toma empréstimo a taxas de juros baixas em um determinado país, aplica em outro com juros mais altos, e ganha com a diferença. A esse movimento, soma-se o fato de que muitos investidores que eventualmente aplicariam seus recursos na Rússia, por razões óbvias, deixaram de fazê-lo nesse momento, direcionando-os para outros países emergentes, dentre os quais o Brasil, valorizando ainda mais o Real.

O conflito entre a Rússia e a Ucrânia também tem impactado a taxa de câmbio no Brasil pela via das cotações das principais commodities exportadas pelo país. Juntamente com o preço do barril do petróleo, o valor das exportações brasileiras de commodities agrícolas e minerais aumentou, em grande medida, no mercado internacional no período recente. De acordo com informações do site Investing.com, somente nesse ano, os preços futuros da soja e do milho aumentaram 26,12% e 25,85%, respectivamente. Por sua vez, o preço do minério de ferro, que iniciou o ano cotado a US$ 120,99, atingiu o pico de US$ 160,95 no dia 07/03 e agora encontra-se em cerca de US$ 150,10 (alta de 24,05% em relação ao preço do início do ano).

As atuais cotações do dólar e os preços das commodities parecem travar um cabo de guerra em relação à inflação. E quem está ganhando esse jogo? Os últimos resultados do IPCA-15 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a inflação continua elevada, atingindo 10,79% no Brasil e 11,44% em Goiânia nos últimos 12 meses. Já o Relatório Focus, divulgado semanalmente pelo Banco Central, mostra que as expectativas de inflação do mercado para esse ano de 2022 não parecem estar ancoradas.

Ou seja, há fortes indícios de que a queda da taxa de câmbio ainda não foi suficiente para compensar o impacto do aumento das cotações das commodities agrícolas e minerais sobre os preços domésticos. Os preços das commodities até agora estão vencendo o cabo de guerra.

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