Ciências Econômicas
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Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 146, junho de 2022

Updated at 07/05/22 06:48 .

Os últimos dados de rendimento da PNAD Contínua mostram uma queda no rendimento do trabalho.

Os últimos dados de rendimento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, divulgados pelo IBGE, não trouxeram boas notícias. Os resultados são relativos ao ano de 2021, quando o rendimento médio mensal domiciliar per capita foi o menor da série histórica do Instituto, iniciada em 2012, tanto para o Brasil (R$ 1.353,00) quanto para o estado de Goiás (R$ 1.270,00). Em relação ao ano de 2019 (ano imediatamente anterior ao do início da pandemia da Covid-19), quando esse rendimento era de R$ 1.520,00, houve queda de 12,34%. E, mesmo quando comparado ao ano de 2020, a queda verificada não foi desprezível, sendo de 6,94%.

O mercado de trabalho brasileiro vinha se recuperando lentamente das crises de 2015 e 2016, quando o Produto Interno Bruto – PIB acumulou quase 7,0% de queda, mas sofreu novo revés com o início da pandemia da Covid-19, com queda de 3,88% do PIB em 2020. Em 2021, houve recuperação desse indicador, que cresceu 4,62%, mas isso não parece ter sido suficiente para alterar a dinâmica do mercado de trabalho doméstico, já que a maior taxa de desocupação da série histórica da Pnad Contínua (14,9%) ocorreu justamente naquele ano, quando cerca de 15,2 milhões de pessoas estavam desocupadas.

Dois outros fatores são importantes para explicar a queda do rendimento médio mensal domiciliar per capita. O primeiro deles é que a recuperação que foi ocorrendo paulatinamente no mercado de trabalho se deu, em grande medida, acompanhada do aumento da taxa de informalidade, que superou 40,0%, em média, no ano de 2021, sendo que o salário médio recebido pelo empregado sem carteira assinada foi cerca de 67,0% do percebido pelo empregado com carteira assinada em 2021. O segundo fator refere-se à queda da renda real provocada pela inflação, que fechou em 10,06% naquele ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, puxada principalmente pelos aumentos dos preços dos alimentos e, portanto, atingindo mais fortemente as pessoas mais pobres.

Quando se analisa a queda do rendimento médio mensal domiciliar per capita por classes de percentual das pessoas, verifica-se que, de fato, os mais pobres foram os que mais perderam em 2021 em relação a 2020. As pessoas que estavam entre os 10,0% mais pobres tiveram queda de 31,8% do seu rendimento médio mensal domiciliar per capita, enquanto as que compunham o grupo dos 10% mais ricos tiveram redução de apenas de 4,4% desse rendimento.

Os resultados do IBGE também reiteraram a grande dispersão do rendimento médio mensal domiciliar per capita em termos das Unidades da Federação (UF) do país. O Distrito Federal foi a UF que apresentou o maior valor em 2021 (R$ 2.480,00), quase quatro vezes superior ao do estado do Maranhão (R$ 639,00), que apresentou o menor valor desse rendimento.

A boa notícia é que os resultados PNAD Contínua referentes ao trimestre terminado em maio/2022 indicaram ter ocorrido uma significativa melhora do mercado de trabalho doméstico. A taxa de desocupação caiu para 9,8%, com redução de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 4,9% na comparação com o mesmo trimestre de 2021. Foi a menor taxa para esse trimestre desde 2015 e o contingente de pessoas ocupadas (97,5 milhões) foi o recorde da série histórica da pesquisa.

Porém, a despeito dessa melhora no nível de emprego, a renda real média não reagiu na mesma medida e caiu 7,2% no ano de 2022. A informalidade da mão de obra e a inflação continuam pressionando a renda do trabalho. Frente ao trimestre anterior, houve aumento tanto do número de pessoas com carteira assinada (2,8%) quanto daqueles que não tem carteira assinada (4,3%), mas esses últimos correram na frente dos primeiros. Por sua vez, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA 15 apontou que a inflação medida supera 12,0% nos últimos 12 meses.

O comportamento do mercado de trabalho no restante do ano é incerto. Está sendo realizada a antecipação do 13º salário para os aposentados e pensionistas do INSS e efetivada a liberação do FGTS. Além disso, o Governo Federal planeja elevar o Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, além de conceder auxílios aos caminhoneiros e aos taxistas. Essas medidas passaram pelo Senado Federal, mas ainda precisam ser aprovadas pela Câmera.

Por outro lado, o aumento dos gastos públicos tem gerado insegurança fiscal, podendo segurar os investimentos produtivos e engendrar elevação mais intensa da taxa de câmbio, com efeitos perversos sobre a inflação. Ademais, grande parte do aumento da taxa básica de juros que o Banco Central vem implementando, visando justamente combater a inflação, ainda não teve seus efeitos completamente absorvidos pela economia. Vejamos.

Source: Economia/FACE

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