
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 146, junho de 2022
Os últimos dados de rendimento da PNAD Contínua mostram uma queda no rendimento do trabalho.
Os últimos dados de rendimento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua, divulgados pelo IBGE, não trouxeram boas notícias. Os resultados são relativos ao ano de 2021, quando o rendimento médio mensal domiciliar per capita foi o menor da série histórica do Instituto, iniciada em 2012, tanto para o Brasil (R$ 1.353,00) quanto para o estado de Goiás (R$ 1.270,00). Em relação ao ano de 2019 (ano imediatamente anterior ao do início da pandemia da Covid-19), quando esse rendimento era de R$ 1.520,00, houve queda de 12,34%. E, mesmo quando comparado ao ano de 2020, a queda verificada não foi desprezível, sendo de 6,94%.
O mercado de trabalho brasileiro vinha se recuperando lentamente das crises de 2015 e 2016, quando o Produto Interno Bruto – PIB acumulou quase 7,0% de queda, mas sofreu novo revés com o início da pandemia da Covid-19, com queda de 3,88% do PIB em 2020. Em 2021, houve recuperação desse indicador, que cresceu 4,62%, mas isso não parece ter sido suficiente para alterar a dinâmica do mercado de trabalho doméstico, já que a maior taxa de desocupação da série histórica da Pnad Contínua (14,9%) ocorreu justamente naquele ano, quando cerca de 15,2 milhões de pessoas estavam desocupadas.
Dois outros fatores são importantes para explicar a queda do rendimento médio mensal domiciliar per capita. O primeiro deles é que a recuperação que foi ocorrendo paulatinamente no mercado de trabalho se deu, em grande medida, acompanhada do aumento da taxa de informalidade, que superou 40,0%, em média, no ano de 2021, sendo que o salário médio recebido pelo empregado sem carteira assinada foi cerca de 67,0% do percebido pelo empregado com carteira assinada em 2021. O segundo fator refere-se à queda da renda real provocada pela inflação, que fechou em 10,06% naquele ano, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, puxada principalmente pelos aumentos dos preços dos alimentos e, portanto, atingindo mais fortemente as pessoas mais pobres.
Quando se analisa a queda do rendimento médio mensal domiciliar per capita por classes de percentual das pessoas, verifica-se que, de fato, os mais pobres foram os que mais perderam em 2021 em relação a 2020. As pessoas que estavam entre os 10,0% mais pobres tiveram queda de 31,8% do seu rendimento médio mensal domiciliar per capita, enquanto as que compunham o grupo dos 10% mais ricos tiveram redução de apenas de 4,4% desse rendimento.
Os resultados do IBGE também reiteraram a grande dispersão do rendimento médio mensal domiciliar per capita em termos das Unidades da Federação (UF) do país. O Distrito Federal foi a UF que apresentou o maior valor em 2021 (R$ 2.480,00), quase quatro vezes superior ao do estado do Maranhão (R$ 639,00), que apresentou o menor valor desse rendimento.
A boa notícia é que os resultados PNAD Contínua referentes ao trimestre terminado em maio/2022 indicaram ter ocorrido uma significativa melhora do mercado de trabalho doméstico. A taxa de desocupação caiu para 9,8%, com redução de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 4,9% na comparação com o mesmo trimestre de 2021. Foi a menor taxa para esse trimestre desde 2015 e o contingente de pessoas ocupadas (97,5 milhões) foi o recorde da série histórica da pesquisa.
Porém, a despeito dessa melhora no nível de emprego, a renda real média não reagiu na mesma medida e caiu 7,2% no ano de 2022. A informalidade da mão de obra e a inflação continuam pressionando a renda do trabalho. Frente ao trimestre anterior, houve aumento tanto do número de pessoas com carteira assinada (2,8%) quanto daqueles que não tem carteira assinada (4,3%), mas esses últimos correram na frente dos primeiros. Por sua vez, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA 15 apontou que a inflação medida supera 12,0% nos últimos 12 meses.
O comportamento do mercado de trabalho no restante do ano é incerto. Está sendo realizada a antecipação do 13º salário para os aposentados e pensionistas do INSS e efetivada a liberação do FGTS. Além disso, o Governo Federal planeja elevar o Auxílio Brasil de R$ 400,00 para R$ 600,00, além de conceder auxílios aos caminhoneiros e aos taxistas. Essas medidas passaram pelo Senado Federal, mas ainda precisam ser aprovadas pela Câmera.
Por outro lado, o aumento dos gastos públicos tem gerado insegurança fiscal, podendo segurar os investimentos produtivos e engendrar elevação mais intensa da taxa de câmbio, com efeitos perversos sobre a inflação. Ademais, grande parte do aumento da taxa básica de juros que o Banco Central vem implementando, visando justamente combater a inflação, ainda não teve seus efeitos completamente absorvidos pela economia. Vejamos.
Fonte: Economia/FACE
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