
Boletim de Conjuntura Econômica de Goiás – Nº 148/agosto de 2022
O PIB cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
O Produto Interno Bruto – PIB brasileiro cresceu 1,2% no segundo trimestre deste ano na comparação com o trimestre imediatamente anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2021, o avanço foi de 3,2%, acumulando alta de 2,5% em 2022, tal qual divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Com esse resultado, o Brasil obteve o 12º desempenho da atividade econômica entre 50 países que já divulgaram o PIB do segundo trimestre de 2022.
O crescimento do PIB no período analisado se deveu, em grande medida, ao avanço da vacinação da população e, por conseguinte, à melhora do quadro pandêmico. Pela ótica da produção, mesmo com uma taxa de crescimento inferior ao da indústria (2,2%), a elevação de 1,3% do setor de serviços alavancou o PIB, haja vista que representa cerca de 70,0% deste indicador. O destaque ficou por conta das “Outras atividades de serviços”, que tiveram crescimento de 3,3%, sendo este o maior dentre as atividades que compõem o setor de serviços. Essas modalidades de serviços englobam atividades que, em geral, requerem a presença das pessoas para serem desempenhadas, como hotéis, restaurantes, serviços de artes, cultura, esporte, recreação e serviços pessoais (cabeleireiros e outras atividades de tratamento de beleza, clínicas de estética, etc.). Já pela ótica da demanda (de quem compra a produção doméstica), o resultado do PIB foi capitaneado pelo consumo das famílias. Embora tenha ficado abaixo do avanço de 4,8% da Formação Bruta de Capital Fixo (compra de máquinas, equipamentos, despesas com pesquisa de desenvolvimento e construção), este consumo cresceu 2,6% e representa cerca de dois terços do PIB, sendo o mais importante componente desse indicador.
A demanda das famílias no primeiro semestre desse ano foi impulsionada pela antecipação do pagamento do 13º salário para cerca de 31 milhões de aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social). Os pagamentos dessa rubrica se iniciaram no dia 25 de maio e foram finalizados no dia 7 de junho deste ano. Outra medida tomada pelo Governo para estimular o consumo das famílias foi a liberação do saque extraordinário do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), instituído pela Medida Provisória nº 1.105/22. A despeito de o prazo desse saque pelos trabalhadores ter sido expandido até o final do ano, seu cronograma inicial ficou entre 20/4 e 15/6, também no primeiro semestre do ano.
Para o segundo semestre de 2022, o consumo das famílias pode continuar sendo impulsionado por medidas de política fiscal expansionistas. A partir do mês de agosto, as famílias que fazem parte do Auxílio Brasil começaram a receber o aumento dos repasses de R$ 400,00 para R$ 600,00, que podem ainda ser potencializados pelo empréstimo consignado, o qual – embora esteja sendo alvo de críticas por conta da fragilidade econômica e financeiras das famílias-alvo do programa – pode estimular ainda mais o consumo. Ainda nesta perspectiva, houve o aumento do Auxílio Gás (de R$ 53,00 para R$ 110,00, com estimativa de pagamento para 5,6 milhões famílias) e o direcionamento de R$ 5,1 bilhões para os caminhoneiros e de R$ 2 bilhões para os taxistas.
A grande dúvida é se essas medidas serão suficientes para manter a alta do PIB no restante do ano. No âmbito interno, dada a defasagem dos efeitos da política monetária sobre a economia doméstica, uma boa parte da elevação da taxa Selic ocorrida a partir de março/2021 ainda não atingiu efetivamente a demanda agregada e certamente deverá encarecer ainda mais o crédito para o consumo e para o investimento. O consumo das famílias também pode ser impactado negativamente pelo aumento nível de inadimplência, o qual, de acordo com informações da Confederação Nacional do Comércio de Bens e Serviços e Turismo (CNC), atinge 77,5% das famílias brasileiras, o maior percentual em 12 anos. A queda da inflação ocorrida recentemente se deve notadamente à redução do ICMS sobre os combustíveis e sobre a energia elétrica, mas os preços do grupo de alimentação e bebidas continuam pressionados, atingindo diretamente a população de baixa renda.
Do ponto de vista externo, a China, maior parceiro comercial do Brasil, teve queda de 2,6% do PIB no segundo trimestre desse ano e continua com a política de Covid Zero, impondo medidas que restringem a circulação das pessoas em grandes centros urbanos. Além disso, não há pistas de resolução do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o que continua pressionando os preços de commodities agrícolas e de energia em nível global. A alta da inflação em grande parte dos países avançados tem levado suas autoridades monetárias a frear o ritmo de atividade econômica. O Banco da Inglaterra (BoE) elevou a taxa de juros pela sexta vez consecutiva desde o fim do ano passado, adotando o maior aumento em 27 anos. Nos EUA, o Federal Reserve (Fed) já impôs quatro aumentos da taxa de juros em 2022 e manteve o ritmo de alta de 0,75% na última reunião, sendo este o maior aumento desde 1994. E, na Europa, o Banco Central Europeu realizou o primeiro aumento da taxa de juros desde 2011. Esse processo deve reduzir o crescimento da economia mundial e, por conseguinte, a demanda pelas exportações brasileiras.
É preciso aguardar para verificar até onde vão os efeitos das medidas governamentais para estimular a economia e se tais efeitos vão superar os impactos negativos vindos de outros lados. Uma crítica que vem sendo feita a esse processo diz respeito ao grau de perenidade dessas medidas. Caso não sejam promovidas alterações nas leis que as instituíram, seu horizonte de alcance não passa de 2022.
Fuente: Economia/FACE
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