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O Brasil é altamente dependente da energia gerada pelas grandes usinas hidrelétricas. De acordo com o Balanço Energético Nacional de 2007, elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, a hidroeletricidade concentra cerca de 77% da oferta de energia elétrica brasileira. Este alto nível de dependência pode trazer algumas conseqüências negativas, tal como a crise energética registrada em 2001. Naquele ano, a falta de investimentos no setor e a escassez de chuvas submeteram o país ao racionamento de energia elétrica, que gerou impactos negativos para o crescimento do PIB brasileiro, não apenas naquele ano como nos anos seguintes.
Existem algumas soluções para diversificar a matriz energética brasileira, como intuito de reduzir esta grande dependência da energia produzida pelas hidrelétricas. Um exemplo são as termoelétricas que utilizam gás natural ou outro combustível de origem fóssil. Sabemos que o uso de combustíveis fósseis é extremamente danoso para o meio ambiente. Assim, as soluções para a diversificação da matriz energética precisam necessariamente atender a alguns aspectos ambientais.
Este cenário nos restringe às fontes de energia que tragam menos impactos ambientais. Alguns exemplos de fontes de energia limpa são a energia eólica, a energia solar, as pequenas centrais hidrelétricas e a cogeração do bagaço de cana-de-açúcar.
Existe uma outra fonte de energia limpa que não apenas contribui para a diversificação da matriz energética, mas que também traz outros benefícios para a sociedade. Esta fonte encontra-se nos aterros sanitários das cidades. Trata-se do biogás, um gás de elevado conteúdo energético que é gerado naturalmente a partir lixo orgânico.
O biogás é o resultado da digestão anaeróbica, processo em que bactérias decompõem a matéria orgânica em meio à umidade, calor e ausência de oxigênio. Seu principal componente é o metano, um gás inodoro, insípido e incolor, mas que está longe de ser inofensivo. O potencial do metano em aumentar o efeito estufa é 23 vezes maior que o do gás carbônico.
Os grandes aterros, comumente, queimam parte do biogás gerado, com o intuito de evitar explosões e reduzir o mau cheiro, pois outros gases que compõem o biogás lhe conferem um odor desagradável. Com esta prática não se explora o potencial energético do biogás. Para aproveitar esse potencial é preciso planejamento e investimento em instalações para captar e levar o biogás a uma usina, onde este será queimado proporcionando a geração de energia elétrica.
O uso do biogás como fonte de energia é bastante vantajoso. Além da possibilidade de diversificação da matriz elétrica brasileira, sua queima reduz a emissão de gases intensificadores do efeito estufa. Conseqüentemente, é possível a obtenção de créditos de carbono, o que pode trazer recursos financeiros para as prefeituras. Em São Paulo, os aterros Bandeirantes e São João produzem energia elétrica suficiente para garantir o abastecimento de 800 mil moradores, ao mesmo tempo em que geram receita por meio dos créditos de carbono para a prefeitura da cidade.
É fácil perceber, portanto, que o uso do biogás de aterro é extremamente relevante do ponto de vista ambiental e econômico. Seu aproveitamento como fonte de energia elétrica traz consigo outras vantagens como a geração de créditos de carbono e a melhor disposição do lixo em aterros sanitários, reduzindo mau cheiro, evitando doenças e contaminação do solo e do lençol freático. Em suma, se apresenta como um ótimo investimento em todos os médios e grandes aterros sanitários. O estado de Goiás e, em particular, Goiânia têm muito a ganhar com o aproveitamento da energia que vem do lixo.
Kallenya Thays Lima L. Oliveira
Economista pela UFG e acadêmica do curso de
Tecnologia em Saneamento Ambiental – CEFET-GO
Ricardo Avelino Gomes
Economista, físico, doutor em Física pela UNICAMP e professor do curso de
Ciências Econômicas - UFG e do Mestrado em Agronegócios – UFG
ricardo.avelino@yahoo.com.br
Fuente: O Popular